terça-feira, outubro 19

Não sei se é o raio da Lei de Murphy ou o carago, mas porque é que, no supermercado, EU VOU SEMPRE PARAR À FILA MAIS LENTA??!!

sábado, outubro 16

                Cá por casa o amor multiplicou-se. Os felinos já estão em maioria.

domingo, outubro 10

Detective Pintassilgo e o Caso do Lápis Roubado

Caminhou pelo braço de rochedo em direcção ao mar. A neblina matinal era densa e tornava tudo em redor invisível, acentuando o suave bater da ondulação nas rochas. Ao chegar à extremidade do penhasco, colocou as mãos nos bolsos da já gasta gabardina e balançou o peso do corpo entre as pontas dos pés e os calcanhares. “Quem teria sido o autor daquele roubo?” – indagou. Na verdade, não se tratava de um caso preocupante, ter-se perdido, nas mãos de um larápio, o lápis de escrita de Margarida Rebelo Pinto (mas de alívio) para a herança literária portuguesa, pensou. De qualquer das formas, não importava agora avaliar o génio literário da autora, mas de apurar o responsável pelo roubo. Afinal de contas, não iria manchar o seu percurso de sucesso como detective por causa de gostos ou ideologias. Nunca o fizera e não seria agora. Cada caso era um caso e, além do mais, a sua imparcialidade sempre fora reputada.
Mas o seu pensamento recaía de novo nos suspeitos. No seu depoimento nervoso, a autora relatara ter acordado pelas 4 horas da madrugada com um ruído que não soubera identificar, tendo percebido, do lado de fora do seu quarto, um vulto em movimento. Tratava-se de alguém com estatura média, vestido de preto e encapuzado. A autora narrou em soluços estridentes que, ao perceber que o seu lápis era o objecto pretendido pelo ladrão, soltou os braços e apertou vigorosamente o pescoço do assaltante, não tendo, porém, conseguido evitar que escapasse, pois ao conseguir libertar-se, derrubou-a no chão.
Poderia ser homem ou mulher, pensava agora o detective Óscar Pintassilgo, pois não era necessária muita força para derrubar aquela pena de mulher. De facto, esta ideia atraía-o mais, desde o princípio, parecia-lhe mais provável ser uma mulher a desejar o lápis daquela escritora… Ao pensar nisto, Pintassilgo deu meia volta e acelerou o passo até à esquadra. Ao serviço, estava o agente Manuel Cunha, que folheava a revista Maria, guardando-a imediatamente, à entrada do detective.
- Sr. Pintassilgo, ao seu dispor!
- Quero ver de novo os suspeitos – declarou seguramente e inebriando o guarda de curiosidade.
- Sim, sr. Pintassilgo!
Ao olhar de novo os suspeitos através da vitrina, o detective Óscar não teve dúvidas. Solicitou ao agente Cunha que isolasse a mulher que apontou:
- Quero interrogar a nº 3.
- É pra já, sr. Pintassilgo!
Ao entrar na sala de interrogatórios, a mulher encolheu-se na cadeira, abrindo o seu olhar ansioso ao detective. Este calmamente puxou a cadeira em  frente, onde colocou o pé direito e, apoiando o braço direito na coxa, manipulou com a mão esquerda o candeeiro metálico que pendia sobre a mesa, em direcção ao rosto pálido da mulher.
- Queira fazer o favor de afastar o lenço do pescoço – ordenou.
Isabel afastou o cabelo comprido e desenrolou o lenço vermelho que lhe cobria o pescoço. As marcas negras eram evidentes e o culpado também.
- Tem alguma coisa a dizer em sua defesa?
- Aquela mulher não pode continuar a escrever! – gritava enquanto o agente Manuel Cunha a segurava e algemava – Ela é uma ameaça para o que resta da nossa comunidade leitora!
Óscar Pintassilgo abandonou a esquadra, não conseguindo evitar aquela satisfação mais desejada que qualquer prémio ou recompensa. O telemóvel tocou…


Fim