sábado, março 26

Decidi fotografar um final de tarde de uma primavera amena e tardia.
Um pedaço de telhado visto por detrás de um muro banhado pelo sol - "neste final de dia tenho direito a uma luz intensa". Comido pelo tempo, onde se lê as chuvas e os sóis que já ali pousaram, diz-nos frontalmente "permaneço". E tudo em seu redor não consegue ser mais, ter mais coisas para contar, do que aquele pedacinho de telhado.
Ao fundo vêem-se plátanos. cujas folhas ondulam levemente, já escuras, banhadas pela sombra de altos eucaliptos. Escondem uma antiga e abandonada fábrica que já não existe, mas permanece como uma memória. As andorinhas ainda cantam, mas sossegadamente, e os pássaros cantam ainda na última hora de sol.
O pedaço de telhado já está coberto pela sombra, mas permanece.

segunda-feira, março 14

o meu caminho

Há qualquer coisa de regresso à vida simples que me atrai nos dias que correm. É o evitamento dos caminhos que se pagam que levam à descoberta de outros, onde descubro casas e ruas banhadas pelo sol que me inspiram curiosidade, pelas vidas calmas junto ao mar, o próprio ritmo com que se faz um percurso, mais lento. E esta cadência convida a outra vivência, a troca do destino pela vivência do caminho. Não será a tudo isto que a nossa responsabilidade é chamada? Ou pelo menos virar-nos para o prazer que a própria dificuldade nos obriga? Não sei ainda muito bem qual o desfecho das coisas, mas tudo me parece tão evidente às vezes, ir ao encontro do melhor que a vida oferece. Será isto um optimismo patológico? Não tenho vontade nenhuma de apanhar com os discursos pseudo conscientes de que a vida corre mal e vai piorar... the hell with it, não quero isso para mim e esse caminho é o único que conheço, o único definitivo.