quinta-feira, maio 23

do tempo por aqui

 
 
Nesta vivência na Guiné há tempo para não fazer nada, tempo para existir só, nos domingos, enquanto a electricidade não vem e o que se quer é apenas sobreviver ao calor com o mínimo de conforto e dignidade, até que a ventoinha se ligue novamente. Sim, dignidade, porque transpirar constantemente só porque se respira não é tolerável a qualquer um, facilmente somos forçados a continuar a gostar de nós mesmos, o que a princípio nos parece verdadeiramente improvável, mesmo suados como porquinhos. Há tempo para conversar com quem, muito provavelmente, noutro contexto, não se daria a oportunidade para tal, por causa de outras prioridades sociais e da constante falta de tempo na vida de crescido. Há tempo para absorver, contemplar e reflectir sobre o que de novo se conhece em nós mesmos; tempo para as conversas mais aparvalhadas, para dissecar outras até que o seu propósito se esgote. Há tempo para a sesta ou descanso com um livro depois do almoço, hora em que é imperativo parar, porque a electricidade também pára e porque é necessário garantir a produtividade depois das 15h30. E na vivência do dia-a-dia há sempre espaço para o que me toca, o que me (co)move. E não quero partir e perder isso.