domingo, janeiro 30

do porto com amor




O Porto é assim. São inúmeras as odes a esta cidade e de certa forma, não me importo nada de cair neste lugar comum, porque o Porto é uma cidade que sobrevive a qualquer cliché.

segunda-feira, janeiro 24

A Parteira de Maria Antónia

Olhou-se no espelho e, com a mesma destreza e rapidez de sempre, apanhou o cabelo liso e comprido num puxo. Não se preocupava com as brancas que via comerem o negro jovem do seu cabelo. Quando precisava de cortar as pontas baças e sua prima Alice lhe propunha pôr um tom sobre tom, dizia:
- Oh! Lá estás tu! Pra quê? Daqui a um mês lá tenho eu de vir pr’aqui outra vez e ficar sentada uma hora à espera que isto pegue! Tenho muito que fazer! Não tenho paciência para andar a correr para o cabeleireiro!”
Preparou a cevada e o pão torrado com planta que comeu encostada à banca da cozinha, passou os dedos por água e secou-os no pano da louça. Pegou na sua mala preta e gasta e saiu de passo ligeiro para o centro de saúde. Tinha trabalho marcado para as nove e meia. Já não era como dantes, agora as crianças nasciam com dia e hora marcada, de acordo com a disponibilidade da doutora.
- Ai que rica menina! – não se inibia nunca de exclamar.
Já há quase trinta anos que os seus braços robustos eram os primeiros a receber as crianças daquela terra e nem por isso, para si, aquele era um trabalho como outro qualquer. Fazia-o com gosto e bem! Talvez por ter esse dom compreendesse por que Deus se esquecera de lhe oferecer a bênção de ser mãe.
Cinco anos depois não permitira que aquela rica menina, órfã de pais acidentados, ficasse sozinha no mundo e, com os mesmos braços fortes com que a recebera no mundo, entrançava-lhe os cabelos pesados e escorreitos numa fita cor-de-rosa. Ouvia agora a sua voz sonante amaciada pelas histórias de adormecer.
Fim

sexta-feira, janeiro 14

coisas pequenas




Coisas pequenas são
coisas pequenas
são tudo o que eu te quero dar
e estas palavras são
coisas pequenas
que dizem que eu te quero amar.

Amar, amar, amar
só vale a pena
se tu quiseres confirmar
que um grande amor não é
coisa pequena
que nada é maior que amar.

E a hora
que te espreita
é só tua.
Decerto, nao será
só a que resta;
a hora
que esperei a vida toda,
é esta.

E a hora
que te espreita
é derradeira.
Decerto já bateu
à tua porta.
A hora
que esperaste a vida inteira,
é agora.

quinta-feira, janeiro 13

um dia de sol em janeiro




Hoje, a minha estrela de natal, a minha única decoração deste último natal, foi dada como morta. As pétalas perderam o vermelho forte, ganhou bolor entre a terra e uma raíz já apodrecida... Andei uns dias a ver até que ponto ela podia aguentar, andei uns dias a evitar aceitar. Mas um dia de sol em janeiro traz a vontade de mudança prometida no primeiro dia e a esperança de outras estrelas de natal. Mudança de móveis na sala, para que o móvel antigo, da minha avó, transmita a sabedoria da esperança aos mais novos.